Isabel Ferreira Banner

A Minha História.

 

Começamos a nossa história no momento em que somos concebidos. É um momento de verdadeira magia. Considero-o uma espécie de big-bang! Um novo mundo de possibilidades através do qual uma experiência riquíssima e de valor incalculável se dá vida para explorar os meandros da criação.

Lembro-me de mim, ainda bem criança, a tentar perceber o ambiente que me rodeava, explorando aquele que seria o meu mundo, por uns bons tempos… tudo me parecia muito estranho, as atitudes, os comportamentos, as regras, as decisões, os “porque sim” que sempre ouvia, tentando encontrar uma boa razão para dar sentido ao jogo humano.

Perguntava-me, frequentemente, sobre o porquê. Do meu ponto de vista a vida dos adultos era, simplesmente, esquisita, sem sentido e dedicada a fazer as pessoas infelizes e limitadas. Parecia que eu estava a viver um sonho que não compreendia de forma alguma.  À medida que fui crescendo, muitas e muitas perguntas se foram desenhando na minha mente, tentando explicar a mim mesma o propósito da vida para poder dar a mim mesma uma boa razão para sucumbir ao jogo e tornar-me mais “uma” no meio de muitos milhares…

Mas as perguntas não encontravam respostas inteligentes e com sentido, assim, a confusão interior foi crescendo. O “mote” para calar a mente curiosa e insatisfeita era sempre ” as coisas são assim … sempre foram e sempre serão …”

Seria verdade? Demorei muito tempo para perceber que esta era a resposta que, os então adultos, aceitavam para si mesmos e que a tinham herdado dos seus antepassados, como um sagrado mandamento a ser respeitado e seguido cegamente.

Como seria pôr em causa o estabelecido? Rapidamente percebi que o “preço” a pagar por essa ousadia era bastante elevado. Tornei-me, por várias vezes, “persona não grata” que incomodava o “sempre foi assim”… e percebi, então, porque é que estas “leis” tinham mantido todos eles fechados nas suas pequenas cavernas interiores, procurando comprar o reconhecimento, a aceitação e a aprovação dos demais.

Como todos os jovens inconformados, cheguei a acreditar que eu teria um problema e que os outros estavam certos. Certamente era eu a que andava enganada! Peguei a bengala da culpa e redesenhei aspetos da minha vida, sucumbindo à loucura de ser mais “um” num mundo tão perdido como incongruente!

Olhando para trás, fazendo uma retrospetiva consciente percebo e reconheço que por detrás da enorme confusão interior em que cresci, sempre esteve um outro “ser” que “sabia” que o que era visto, sentido, imaginado ou ouvido era, apenas, um filme que ia correndo numa tela, dentro de uma sala gigante, tão grande quanto o próprio universo.

Sem esse “ser” eu não teria conseguido interrogar-me e identificar aspetos internos que o mundo lá fora jamais me mostraria. Porquê? Porque o próprio mundo é cego, surdo e mudo e incapaz de se perceber como um simples espectador daquilo a que chama de “si mesmo”.

Durante toda a minha juventude me questionei e ousei pôr em causa o estabelecido, na ânsia contínua de descobrir o que estava por detrás da “cortina” que marcava o limite autorizado, além do qual vive o fantasma do “desconhecido”.

Foram anos difíceis, muitos anos, na busca por respostas e descobertas que fizessem sentido. O caminho até ao destino nem sempre é valorizado, como merece. O destino é idolatrado, mas o caminho é escondido. Faz parte da farsa que a nossa mentalidade leva à cena, a cada instante.

Quanto seres humanos desistem da busca por não valorizarem as quedas, as perdas, os altos e os baixos que ela implica? Mas, que maior vitória haverá do que aquela que nos damos quando rasgamos o véu da ignorância e descobrimos o diamante infinito que somos? Hoje, vejo a vida como um processo de lapidação desse diamante. Esta visão interior alimenta-se do brilho inebriante desse preciso diamante. É ele que mantém acesa a chama que ilumina e sustenta esta viagem… que continua a acontecer todos os dias …